domingo, 9 de maio de 2010

Ironias da ciência - parte XL

(ou "Porque eu adoro morder a língua")


Você que se importa somente com o que faz diferença na sua vida pode não ter notado, mas uma recente notícia fez alguma na minha. Segundo os dados preliminares de uma recente pesquisa, os europeus e asiáticos têm partes de DNA Neanderthal (entre 3 e 4%). Tal informação vem do mapeamento genético (se não me engano, de 2/3 até o momento) dos Neanderthais (basicamente, os Bussundas das cavernas), primos primatas extremamente próximos a nós (e, como você vai ver - se interessar - mais próximos do que se pensava).
Tá. O que isso importa?

Bom, primeiro e mais importante: devo 50% de cerveja pro Marião, meu amigo romântico que ainda crê na humanidade. Devo porque sempre discutimos muito sobre esse tema nos nossos "exercícios de papo furado" (como talvez dissesse Samuel Klein).
Mario queria acreditar que havíamos cruzado com os primos, que algo deles viveria em nós (ele sempre simpatizou com as primas, afinal). Já eu sempre achei que não passávamos de descendentes de assassinos puramente sapiens, e que entre nossas vítimas estariam esses mesmos primos Neanderthais. Por que? Ora, um mix de pragmatismo de empirismo: se somos xenófobos com a nossa própria espécie, imagine com outra! Não vou me estender sobre o tema, é ponto-pacífico que conflitos étnicos foram o mote dos últimos séculos.
Essas eram nossas desculpas, nossa manta lógica sobre nossas paixões e nossas releituras para os fatos. Mas o interessante da ciência  recai bem isso: independente do que você gostaria, do que você queria acreditar ou provar pelo viés, os fatos são os fatos. Podemos distorcê-lo conforme nossa mentalidade na época, é claro, e nisso se baseiam as discussões infindáveis dos sociólogos sobre "o que é fato de fato". Ainda assim, em ciência, se 2 + 2 = 4, fóquior célfi se você queria que fosse cinco. O que é ótimo.
Tão ótimo, aliás, que o sueco chefe das pesquisas, Svante Pääbo, defendia exatamente o ponto de vista do não-cruzamento até o ano passado, ainda mais depois das pesquisas de 2007, mas não cometeu o erro clássico de prender-se à crença diante dos fatos que apurou. Esse tipo de atitude que Svante sabiamente evitou, e que infelizmente é muito mais frequente que o máximo tolerável (zero), atrapalha e muito a expansão do Entendimento, seja em qual área for.
Ponto pro Marião. Mordi a língua e pagarei os 50% de cerveja com muito prazer.

* Mas só 50%, afinal nenhum de nós estava totalmente certo: traçarmos uma parte deles não significa que não matamos a outra, ou seja, o cruzamento pode significar que além de assassinos fomos estupradores! As pesquisas são preliminares e "afirmação categórica e definitiva" não é algo que exista no dicionário da ciência duradoura, mas vamos às cervejas mesmo assim.

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Segundo, as implicações.
Entende-se, por exemplo, que europeus e asiáticos SÃO genéticamente diferentes de africanos puros. Então...
Quer apostar que num piscar de olhos grupos racistas vão aproveitar o ensejo?
Preparem-se para pérolas como essa: "se temos 96% do nosso DNA idêntico ao dos chimpanzés, mas temos entre 3 e 4% dos genes de Neanderthal (que os africanos não herdaram), então temos 4% de diferença genética dos africanos, assim como dos chimpanzés". Não seria uma novidade histórica, já que justificam seu ódio com pseudociência desde os tempos de Darwin (ou do Nietzsche e até da picareta da Madame Blavatsky).
Mas nem tudo está perdido porque, ao mesmo tempo... não é irônico que Hitler tenha defendido a pureza de uma raça formada justamente por miscigenação? É isso mesmo! Somos nós, e não os africanos, os mestiços (e com uma raça que sequer chamaríamos de humana, a julgar pelos hábitos que temos entre nós mesmos). Chupa, Führer!
Claro, ninguém vai levantar a lebre de que, se puséssemos um terno-e-gravata num Neanderthal e soltássemos no Tucuruvi, por exemplo, ele seria assaltado como um ser humano qualquer.

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O importante da história é que, independente do que as pessoas farão com os dados, cabe à ciência apresentá-los. Verdade consome-se como verdade; quem regurgita polêmica é a nossa boca. A moralidade e, mais ainda, a Ética são nossas obrigações e nenhuma mentira ou verdade oculta se justificaria apenas porque os ouvidos de alguns permanecem crus.

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Outras tantas implicações surgirão além das muitas que poderemos imaginar. Mas nenhuma tem sido, até o momento, mais divertida do que pensar no dia em que tomarei umas cervejas 50% pagas com o Marião, enquanto observaremos ruivinhas neanderthais gostosinhas pelo bar (sob o mero prisma antropológico, óffi córse).


P.S. para a patroa: Se eu chegar bêbado e disser "Hoje eu tô com a macaca!", releve.

3 comentários:

Anônimo disse...

HAHAHAHAHAAHAHAHAHAHAHAHAHA
Mony olha o pau de macarrão!!!!!!

Jana.

Mario Ferrari disse...

Até que enfim!
IDE CRESCEI E MULTIPLICAI-VOS, não importa mesmo mais com quem, pois somos todos filhos de répteis...

Agora, mais do que nunca, a mulata é que é a tal! pelo menos a parte escurinha(puriiiiinha...)

Nós, os orangorilas (ou será que somos saguimpanzés?) esquecemos como é bom ser de tudo um pouco...

Macaco bosta esse tal de macaco sem pelo...

ah, vou cobrar a cerveja viu ô miscigenado do caraio!

Mario Ferrari disse...

Mas isso não mudará em nada nossa amizade, meu arianim cagadim viralatão!