A gente reluta muito com as novidades, não é?
Claro, não com as boas. Ou pelo menos com aquelas que demos o devido tempo para que mostrassem a que vieram. Sim, porque a gente quase nunca olha bem pras possibilidades, mais pelo hábito e pela desconfiança com todos os marketings que invadem nossas vidinhas do que por bem avaliá-las.
Pra ilustrar, digo que fui pela primeira vez num psiquiatra. Ou melhor, numa. Eu não me considero a última bolacha do pacote, mas até que tenho um básico de cultura pra saber que psicólogo e psiquiatra não são coisas pejorativas. Mesmo assim, relutei. Menos pelo clichê e mais pelo receio em falar.
As máscaras são fáceis: você liga o botão e os sorrisos saem até quando a alma está numa escala de azuis. As piadas brotam como um placebo pra esquecer da joenete no pé da alma. Falar de si é difícil, principalmente pra desconhecidos e mais ainda pra desconhecidos pagos pra te ouvir.
Eu sempre achei que havia um componente patético nessa relação, mas é fato que não há outra via. Uma vez que desaprendemos a conversar conosco e os bons amigos ouvintes de nossas lamúrias cedo ou tarde darão suas opiniões pessoais, o jeito é apelar pro profissional. Há quem não concorde com isso, mas se você pensar que seu amigo pode ter uma outra visão sobre você (em geral, a que você não quer), te julgar (isso, mesmo sendo amigo - gente comete erros com a melhor da intenções) ou seja lá qual for o caso, dá pra considerar melhor a outra hipótese. Foi o que aconteceu comigo, cansado de importunar quem gosto com as minhas manias e conversas subjetivas demais na hora do 'vamovê'.
Tomei coragem, marquei a hora e pumba, apareci. E olha que oportunidade de não ir não faltou: dia marcado errado, melhora no humor, coisa e tal. Mesmo assim, teimei.
Parece grande coisa, mas não é: nesses dias todos aguardando a consulta, cara pra diabo (dos que vestem Prada), imaginei mil discursos, argumentos e diálogos que uma mente mediana é capaz de produzir pra se proteger. Até chegar ao ponto onde pensei "vou dizer o quê?" e partir pro "o que sair, saiu" foi uma caminhada e tanto.
Os motivos. A gente sempre tem motivos pra cuidar do órgão mais estressado e maltratado de todos. Você vai umas 300 vezes no clínico geral, umas 400 no ginecologista e umas 50 no ortopedista. Mas vai no neuro só se desmaia ou treme, se viu na novela sobre coágulo no cérebro e encucou ou se foi achar sinusite em ressonância. Tratar a alma, Psiché, é algo relegado ao último plano, logo atrás do cisto cebáceo.
Médica de alma. Foi com essa frase que a psiquiatra me ganhou. Não é bom ouvir de uma representante dessa classe, que em sua maioria trata a mente como um subproduto de uma bioquímica idiota, auto-entitular-se assim de forma tão franca?
Foi um prazer. Quando ela disse isso eu notei que o negócio dela era software. Nada de remedinhos pra te deixar no piloto-automático sem sentir coisa alguma. O negócio ali é o ScanDisk. É o que eu queria. E é por isso que esse assunto vai aparecer por aqui mais vezes (ou tão logo eu tenha 180 Reais pra próxima consulta).
Pronto. Agora vocês poderão dizer, com toda a propriedade, que o papo desse vosso amiguinho é bem loko.
Charge do dia
Há 4 anos
5 comentários:
Então é isso!
Que bom que estais cuidando de ti.
Aguardarei novidades do front alienista.heheheheh
meu psicologo é como um ás na manga da vida. Sei que se tudo o mais falhar ele estará lá. E nem é tão caro...
PS: e olhe que sou psicologa também! Mas meu negócio é coletivo, não individual. Um cara só é muito complicado. Já um montão deles age de forma mais estereotipada, mais fácil de entender, embora não de justificar.
Viu só os jogos de futebol ultimamente?
Isso mesmo, cuida dessa cabecinha que eu amo, cuida que eu entorto com as minhas manias, esquisitices, conversas sem sentido e afins...
Brinacdeirinha, ou não. :P
É bom demais poder contar com esse suporte, faz uma tremenda diferença. Fico muito feliz que tenhas gostado, confiava que ela fosse capaz mesmo! Ufa!
Ainda quero eu ter direito a umas sessões dessas... Ainda acho uma terapeuta de acordo.
Aliás, aceito indicações. ;)
A gente é assim, uma complexidade de elementos cujo mais delicado e essencial fica em segundo plano, é da alma mesmo que a gente mais precisa cuidar, pq quando ela está bem todo o conjunto se realinha.
Boa sorte nessa nova aventira e conte comiguinha sempre! ;)
Beijo
Prepare-se para se apaixonar por ela, faz parte do processo terapêutico ;-)
Amei ler isso. Boa viagem!!! Acho que essa foi a melhor que eu fiz na vida :)
Postar um comentário