sexta-feira, 13 de junho de 2008

• Largar mão

Não, não é uma modalidade das Paraolimpíadas Leprosinhas 2012.

Deixar-se abandonar é algo com que sempre lutei. Abrir mão de um esforço no qual acreditei era pra mim inconcebível até bem pouco tempo. Aprendi algumas lições difusas nesse processo, mas faltou-me aquele chute no saco inerente ao aprendizado emocional (e "porque quase sempre só aprendemos dando cabeçada" é assunto pra outro dia).
Um 'fato': se você atingiu seu objetivo, foi persistente. Se não, foi teimoso. Não há distinção senão a semântica. Não é a insistência o fator que diferencia sucesso de fracasso. O resto da frase, deixo para que você complete.

Minha vontade de abandono é grande, é persistente e quase irresistível. Algo que sinto desde criança, que já enfrentei e venci numas poucas batalhas, que já cheguei a entender nuns poucos insights. Mas nada mudou: ela está aqui, eu também e cansa-me lutar. Pra quê, afinal?

Quando lutamos pelo que acreditamos (e dependendo do que você crê, é mais difícil escolher as armas - e até optar pela ausência de uma), temos a prepotência de achar que isso, primeiro, é o que o mundo precisa e, segundo, é o que nós precisamos individualmente. Seria bom, talvez, mas não para uma raça onde herói é apenas o assassino que venceu e sobrou pra contar a história. Ainda assim, o mundo humano foi feito dessas ações incapazes de avaliar o todo e suas infinitas variantes. Nessa equação, 2+2 nunca dá 4 porque não se encontra em lugar algum um 2 de verdade.
Pra que bandeiras de qualquer espécie?

Deixemos o emocional dizer (ou ele cala o racional e decide falar?):
Cansei. De verdade. Daqui a pouco quem cai doente sou eu. Se por um lado, por pura falta de coisa melhor pra se fazer nesse universo, acreditei com amor em muitas coisas, por outro... oras, foda-se. Não preciso aceitar os fatos, eles são o que são e estão além da minha parcialíssima compreensão.
Deparo-me com uma óbvia nuance de um deus qualquer, a quem amei mesmo o fato de a tudo destruir: aceitei Sua presença posto que deus, mas afinal Ele age pela obra e não por Si (e aqui não quero explicar que não estou a ser religioso, nem quero explicar mais nada). Dá-se através das pessoas.

Como um israelense, luto por uma terra árida e pedregosa a qual cri divina. Como um muçulmano, debati-me ao extremo pela perda dessa terra, a qual cri divina. Perdi a mim mesmo e quase esqueci do único valor real em toda terra: estar vivo (em todos os sentidos) para usufrui-la.

E lá no fundo, uma velhinha beata a mim sorri e murmura uma antiga ladainha:
"Senhor, ensinai-me a hora de deixar ir".



Fiquem com os seixos.
Os ventos que procuro não sopram nessa areia.

10 comentários:

Anônimo disse...

Não vá embora, não ainda... Estamos em intervalo comercial mas não mude de canal. Em breve volto pra comentar isso aqui - a sincronicidade de algumas coisas me chamou muito a atenção... (Nesse exato momento, dizem as minhas obrigações que eu tenho que sair da frente do micro, onde ainda me encontro tomando café e de pijama, e ir trabalhar... Mas eu volto... rs)

Por hora apenas um comentário: amei as cartas!

Beijo.

웃 Mony 웃 disse...

As pessoas são o que são, agem como sentem ,pensam ou sabem. Fazem o melhor que podem no momento, ainda que o melhor delas seja visto de fora como o pior...
As escolhas são individuais. Nós vivemos num mundo onde cada qual vive segundo suas próprias condições e cresce conforme se permite, se e quando quiser...
Admiro as formigas e alebhas, pois elas têm uma vida regida por e para o coletivo. Nós humanos não somos assim, vivemos em coletividade, mas, a experiência é individual.
Na maioria das vezes, as pessoas não ouvem o que falamos, ouvem o que se dizem internamente, ou, da maneira como internamente vêem o mundo. Nós também, muitas vezes não falamos com ela, mas, conosco. Projetamos fora aquilo que não sabemos lidar dentro. Ou simplesmente derramamos nosso descontentamento sobre ela, quando nem era com ela o assunto principal.
Sim, isso é um mundo meio "autista" é cada qual convivendo com os outros carregando pra conversa a bagagem das próprias neuroses. E dos aprendizados que consegue conquistar.
A melhor coisa é largar mão. Sim, olhar pra pessoa e dizer interiormente, é, ela(e) é assim mesmo. Nesse momento é assim que ela(e) sabe se comportar.
A gente pode tentar conversar, mas, a postura da pessoa só vai mudar, se interiormente ela estiver aberta a isso. Se for o momento dela. Se aquilo a tocou. E isso, não depende da gente, mas, de cada um. Com a gente é a mesma coisa. No fim, é tudo igual. Flexibilidade também é um aprendizado, assim como o respeito. De repente, aquela pessoa ainda não chegou lá. O que a gente faz nessa hora? Se afasta, pq ninguém é obrigado a se machucar por conta do outro. Tá doendo? larga mão, sai fora. O outro não está errado, está no momento dele, diferente do seu...
Isso não é utilitarismo, é auto-respeito.
Se, de repente houver um encontro e a pessoa estiver em outro momento, aí sim pode acontecer convivência de novo.
Seria muito melhor PRA GENTE se conseguisse "mudar" o outro, fazê-lo do jeito que a gente quer. facilitaria muito a nossa vida, mas, cada um tem sua própria caminhada, no seu ritmo. Conviver é assim. Mas, a gente sempre tem o poder de escolha...
Compensa mais largar mão do que brigar em vão, evita energias desperdiçadas. E evita o contágio com aquilo que não é seu.
É maravilhoso poder dizer, "Ah! Eu não tenho nada com isso".
Pra mim, o sentido do eremita é esse, viver em sociedade, mas sem carregar o que é dos outros, estar só consigo.

Anônimo disse...

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escreveu pouquinho hein???
Interessante a soma das cartas: 0 + 12 + 9 + 1 = 22. O 22 e o zero pra mim significam a mesma coisa: o final de um ciclo levando ao começo de outro. A ordem sendo gerada dentro do caos.

Vinícius Castelli disse...

Eu penso e penso, acho respostas, outras tantas vezes, não.

Apenas mortais agindo de formas difertentes, tentqando encontrar algum caminho, acertando e errando diante de tanta confusão. Hoje acho que tuddo tem sua hora. Hora de ação e hora de reflexão e descanso.

Cada um luta por sua terra árida e divina, cada um da sua forma. E que a forma escolhida seja 'quase sempre' a correta e menos dolorosa.

V.D.S. disse...

'A hora de parar' é uma sabedoria divina, quase inexistente praqueles passionais, que sempre acham que ainda tem mais um pouco. Mas quando se passarem 10, 20 anos, o que você quer ter do seu lado? As relações complexas que te levaram a última gota de sangue do 'a hora de parar', ou pesssoas e situações gratuitas? Os pratos rasos são caríssimos. Talvez seu post não tenha relação nenhuma com essa ladainha toda que eu vomitei. Mas foi o que eu senti dele.

Beijos

Anônimo disse...

Ah, pronto, consegui voltar aqui com tempo...

A gente tem uma mania de achar que só está resolvendo um problema se estiver "fazendo algo" por ele. Vc já fez pão? Faz parte do processo de fazer o pão, depois de misturar todos os ingredientes, deixar a massa "descansar". Se vc não esperar o fermento fazer o que ele tem que fazer, vc terá um belo tijolo.

Mas não... a gente gasta toda a energia que tem nadando contra a correnteza, e depois se surpreende que morre afogado mesmo tendo se esforçado tanto!

Isso funciona com tudo: projetos, pessoas, doenças, relações, nós mesmos... Dar o tempo para as coisas acontecerem é diferente de desistir. Esperar o tempo do outro é respeitá-lo. Dar-nos o nosso tempo de descanso é nos respeitar. Aguardar o momento certo de agir, e reconhecer esse momento, é uma sabedoria que só se alcança com o tempo (a qual, confesso, ainda não conquistei...).

Não gaste tudo o que vc tem no primeiro tempo do jogo. Já já tem mais... e ainda assim a decisão sempre pode acabar nos pênaltis. Respire fundo, recupere as forças, renove as metas, repense os caminhos... e segue em frente, porque o caminho atrás de nós se desfaz no momento em que passamos e a estrada só se forma à frente no momento em que a desenhamos.

Beijão! E muita luz pra ti.

De Marchi ॐ disse...

Mony, Karin & Vini, that's it... :)


P.S.: Luiz, por outro lado... o 4 demora a mudar (SE muda), né...
não é por nada mas hoje em dia ciclos soam aos meus ouvidos como prisão. Mas você tem razão... :)

Vanessa, na verdade acho que não, mas se serviu pra regurgitar e ajustar as idéias, beleza! :)

V.D.S. disse...

Droga!

Anônimo disse...

Denis, o Imperador não é uma carta de mudanças, e sim de poder. Ele é muito arraigado, mas quando muda obviamente afeta todos à sua volta... :)
Sobre os ciclos, não vejo como fugir de algus deles. Temos que escapar dos ciclos negativos, isso sim. Os ciclos positivos são aqueles que te levam a um nível superior.
Recomendo a vc dar uma lida sobre a Lei das Oitavas. um abraço!

Edmea Thea Belladonna disse...

Desculpem a estranha intromissão,

mas "lutar" no sentido de guerrear é coisa de macho androcrático!
E esse seu deus Jeová, ou O Impronunciável de Maomé que só faz castigar é um pé no saco (ou melhor na boca) universal!
Como já disse o F. Pessoa, poeta às vezes (muitas vezes) dionisíaco,
"abdica, e sê rei de ti próprio".
Agora se lutar tem algo de gandhiano, de não largar o osso que me dá sentido, longe da violência maldita que serve de justificativa para o mundo cão em que estamos, se lutar é recusar esse vício maldito da supremacia da espada em nome de uma merda de civilização (há mais ou menos 5000 anos) então não há porque parar de lutar, ainda mais que o importante não é vencerou atingir metas mas o ato de viver sobre o próprio osso!
Um abraço atrasado...
Edmea Thea