Aposto que você já passou por aquele desagradável processo de descoberta onde um segredo seu, que levou anos para ser dividido com aquela pessoa amiga, foi parar em questão de horas na orelha do parceiro(a) dela - provavelmente durante aquelas conversinhas idiotas de alcova onde, por falta de assunto pós-foda, fala-se do alheio. Poizé, nobre leitor. Casal é isso aí (dizem): bateu em um, dói no outro. Eu, que nunca fui amigo de casal e sim de pessoas, finalmente compreendi.
Já comentei antes, mas o tema é persistente. As simbioses nos relacionamentos são como Gremlins: no começo são até fofuxinhas, mas espera só alguém mijar em cima pra tu ver no que se transformam. Da posse e corporativismo à parcialidade e total falta de privacidade, vários dos tórridos casos del amor cotidianos abarrotam nuestros saquitos com suas manifestações recalcinofolejantes de mimetismo, comensalismo e até conurbação (onde os construtos fantasiosos de um fundem-se aos do outro).
Complicado. "Mas," - você poderia dizer sabiamente - "...cada um cos seus pobrema". Concordo. Até o momento onde isso não vem pro seu lado. Sim, vem, e quando vem... ê laiá. Até explicar que focinho de porco não é tomada (ou, como diria Irmã Dulce, que "O.B. não é chup-chup de vampiro") os danos já estão feitos. Você pode até minimizá-los com aquela ginga malemolente da cor do pecado, pero... evitar? Jamé.
Isso porque a equação da meia-laranja é uma das inefáveis Leis hortifrutigranjeiras do Universo; Lei esta que postula, entre outras verdades físicas, que dois idiotas enamorados têm de ocupar o mesmo lugar no tempo-espaço, nem que seja numa situação absolutamente impertinente para todos exceto a duplinha. Não tem jeito: Lei, amiguinho, (a menos que você seja o Maluf) é coisa séria!
Ah! E ela não é machista: vale para amigos e amigas de ambos os sexos e vice-versa, sendo pré-requisito apenas possuirem conjuges que substituam-lhes integralmente a individualidade.
É compreensível. Entre as sortidas modalidades de relação, há aquelas onde fulano(a) quer misturar amigos e lóvi-lóvi num mesmo ambiente para facilitar a vida. Até aí, joínha (desde que fulano et cicranos saibam separar as coisas, o que não é o caso dos mutualistas).
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Vejamos uma alegoria do incrível mundo da Natureza que Discovery Channel jamais mostrou:
Imagine você, amigo de Bernardo* (nome fictício para fins ilustrativos), seguindo seu rumo num dia outonal. Caminha bem sozinho pela estrada à fora levando doces para a vovozinha quando, de repente, encontra Ela, a famigerada "muié do amigo". Aquela mesma que Bernardo disse um dia, todo enfático, que "a relação dos amigos com ela independe do fato dos dois serem namorados". Beleza.
Eis que ela inadivertidamente te cumprimenta com aquela intimidade que ninguém sabe de onde veio, dispara a falar um monte de coisas que você não quer saber e, de quebra, come todos os doces da vovozinha.
Então você pensa: "Vou lascar um hadouken na orêia dessa mula".
Então você repensa: "Deixa quieto, vou embora pra não fazer merda em consideração ao proprietário" e segue seu caminho, deixa o assunto em silêncio, em paralelo, pronto a evitá-la futuramente a fim de evitar conflito até que possa digerir o caso (e ela, os doces).
Tarde demais. Em algum momento seu amigo Bernardo intuirá que você 'ignora' a muié (claro, através dos comentários sinuosos da patroa - que em geral é burrinha mas manja tudo de intriga). Você pretendia conversar com ela depois (ou mesmo deixar pra lá), mas Bernardo já tomou as dores. E é isso: o circo está montado, rende três porções e não mais que de repente você está no meio de um 2 contra 1.
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Poderíamos dizer "ah, mas os mutualistas tomam partido com ou sem razão, você sabe. É como o filho pentelho do compadre: você tem de deixar o satanás quebrar seus bibelôs sem falar nada, por consideração".
Pois eu digo: "Antes fosse, meu nobre leitor". Quando algo está definido, é mais fácil. Todos sabem que "mulher do amigo" é algo a tolerar-se como o carro dele que encheu sua calçada de óleo, ou o cão da família que resolveu serrar o pau na sua canela num dia de visita. Os amigos do amigo enamorado, cientes disso, tratariam de preparar o espírito para a realidade que se desfralda e pronto, tudo certo.
Mas não. Toda lei pode ser distorcida e os mutualistas só assumem sua condição fundamental em momentos específicos, também chamados etimologicamente de "convenientes". Tal como uma Petrobras que oscila entre comportar-se como privada ou estatal de acordo com a pauta, os mutualistas também balançam no muro e não raro postam-se como entes distintos que sabem separar as coisas.
Ele quer que vocês sejam amiguinhos, role ou não (e aí se não rolar). Ao trazê-la para o futebol, por exemplo, tá implícito no ato do Bernardo que você não pode tratar a namorada dele apenas como "a namorada do amigo" - ela tem nome, é alguém... e se preciso ele exigirá verbalmente a inclusão. Para mostrar como ele está convicto disso, diz que reagirá "super numa boa", entre outros adjetivos equivalentes que aparecem nas frases explicativas, que ele repetirá à exaustão até que você acredite. Perigo, Will Robinson!
Cedo ou tarde você perceberá a lógica: ela (chamemo-lo-emo-la Anêmona), segundo ele, deve ter todos os benefícios de um camaradão de boteco. MAS sem jamais ter de encarar um "vá tomar no entorno do pubococcígeo, puêrra" como todo cumpádi. Resumindo, 'comer a carne sem roer o osso'.
Então você aprende: jamais cair nessa conversinha, sob pena de peidar na frente da moça e cometer um pecado mortal aos olhos do colega.
Não perca tempo: por parir tal ideia de jerico, mande o bródi tomar no pubo etc, enquanto ele ainda considera isso um cumprimento normal entre camaradas.
É isso aí, amiguinhos! A natureza tem suas leis imutáveis mas é possível sobreviver a elas!
Já sua 'amizade'...
Charge do dia
Há 4 anos
10 comentários:
Amigos vão e vem ...
Inimigos são pra vida toda .. :D
qui bobagem essa aí!
Diga isso aos Bernardos!
Bernardo de cú é rola! hehehehe
Nem li, mas quem leu recomenda.
Eu postei um comentário gigante aqui hoje cedo.
Cadê?! :(
Tomara que tenha sido apagado!
Num fui eu!
o mesmo aconteceu comigo :-((
Também num fui!
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