terça-feira, 10 de junho de 2008

• A face 1 - Recorrência

Um olhar, um semblante, uma mágica qualquer
Capaz de um instante transformar em arte,
um sonho em slide e rotinas em tintas.
Ela, pigmento oscilante, furta-cor, furta-paz.

Viaja comigo há décadas, num vago silêncio que, sem dizer, sugere.
Suas reticências, suas incertas origens, suas pequenas incógnitas

Traduzem impulsos, desejos e uma posse indistinta,
magnetos da fome e do ferro em meu sangue.

Tal criança faminta, tateio no escuro
pelo mamilo de seus trejeitos,
pela urgência de suas dúvidas
e pela mácula em seus lençóis.

Encontro-a em rostos e caras furtivas
e, por um momento, em ti quase creio.
Desvelo, incinero e encontro a mim mesmo,
a reter imagens num espelho (diante do qual ninguém há).

Quero. Quero e respeito seu estalar de dedos.
Eu, soldado ilhado num bunker qualquer,

onde notícias da guerra demoram a chegar,
obedeço sua ordem sem jamais ouvi-la.

Sonâmbulo a postos:
Deitado sobre o telégrafo,
balbucio teu nome sem sílabas
e adormeço.

De onde está, sente meus dedos ávidos?
Adoçam-te? Roçam-te? Eriçam-te?
Dizem-te de mim mais do que eu?

Ouve-se nós? Houve nós? Haverá?

Diga. Qualquer coisa, mas diga.

3 comentários:

De Marchi ॐ disse...

? Não.
Poesia não se explica...

웃 Mony 웃 disse...

Tua arte está aí, sempre esteve, ela só não tem a mesma forma o tempo todo, exatamente como a vida, como as pessoas, nada tem...

Vinícius Castelli disse...

Me inspira