Um olhar, um semblante, uma mágica qualquer
Capaz de um instante transformar em arte,
um sonho em slide e rotinas em tintas.
Ela, pigmento oscilante, furta-cor, furta-paz.
Viaja comigo há décadas, num vago silêncio que, sem dizer, sugere.
Suas reticências, suas incertas origens, suas pequenas incógnitas
Traduzem impulsos, desejos e uma posse indistinta,
magnetos da fome e do ferro em meu sangue.
Tal criança faminta, tateio no escuro
pelo mamilo de seus trejeitos,
pela urgência de suas dúvidas
e pela mácula em seus lençóis.
Encontro-a em rostos e caras furtivas
e, por um momento, em ti quase creio.
Desvelo, incinero e encontro a mim mesmo,
a reter imagens num espelho (diante do qual ninguém há).
Quero. Quero e respeito seu estalar de dedos.
Eu, soldado ilhado num bunker qualquer,
onde notícias da guerra demoram a chegar,
obedeço sua ordem sem jamais ouvi-la.
Sonâmbulo a postos:
Deitado sobre o telégrafo,
balbucio teu nome sem sílabas
e adormeço.
De onde está, sente meus dedos ávidos?
Adoçam-te? Roçam-te? Eriçam-te?
Dizem-te de mim mais do que eu?
Ouve-se nós? Houve nós? Haverá?
Diga. Qualquer coisa, mas diga.
Charge do dia
Há 4 anos
3 comentários:
? Não.
Poesia não se explica...
Tua arte está aí, sempre esteve, ela só não tem a mesma forma o tempo todo, exatamente como a vida, como as pessoas, nada tem...
Me inspira
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