quinta-feira, 10 de abril de 2008

• Reverberações

Adoro lê-los.
Houve uma época da minha vida, aquela onde nos encantamos com a nossa própria voz, em que incomodava-me encontrar nas bocas alheias os sons 'tão meus'. Chavões, pensamentos, não importava: o senso de posse só não era maior do que a ilusão de importância. A 'apreensão indevida' atrapalhava minha busca por identidade e ofuscava as recém-descobertas nuances, assim cria. Era natural (não que isso justifique qualquer estupidez) a preocupação com originalidade numa idade e numa Era onde ser toma ares de exigência, quase um cruel pré-requisito social. Redescobri Américas tão virgens quanto Mata Rari e contei vantagens.

O tempo passa, graças a Kaghanda.
Um dos meus prazeres íntimos tem sido encontrar, nos ditos de queridos ou nem tanto, reflexos e reverberações das ondas que já passaram pelos meus dedos e cordas. E que, compreendo, vieram de outros lugares, retransmitidos pelo mar sem orla dos relacionamentos. Repassei; se o fiz com acréscimos, participei com algum tempero, boa fé e nada mais.
As minhas palavras suas. Nada é integralmente meu nesse jogo de compartilhar e isso provoca justamente o mais paradoxal dos efeitos, onde tudo parece recipiente e conteúdo. A consciência, seja o que for, é global como tudo no mundo das idéias. E eu, neurônio de emoções, encantado com todas essas fagulhas elétricas que dão sentido ao que não tem, gosto da sensação tátil de pertencer.
Pensando bem, nesse tempero depositei a mim mesmo ou não seria capaz de reconhecer, nas reverberações, os aromas únicos dos novos 'donos' tagarelas. Então evito a falsa humildade de dizê-lo pouco e nada mais, posto que reagem ao seu gosto aqueles a mim mais preciosos. É assim com os reflexos: a gente quase acredita que há muitos sóis na superfície da água, quando agitada.
O que digo hoje, o que regurgito, segue com minha saliva para outras bocas e orelhas, interfere em destinos os quais não vislumbro e volta a mim em garrafas de náufrago.
Essas garrafas também encantam-me a ponto de não sabê-las brincadeira na piscina ou S.O.S. no oceano. Talvez ambos, não sei e não importa. O prazer está em respondê-las, o enlevo está no tráfego de mensagens em casulos de vidro que boiam pelas ondas de idéias, sonhos e emoções, todas nossas e de ninguém.
Narciso sempre foi Rio.

6 comentários:

Vinícius Castelli disse...

Escuta o que há de precioso que sai dos corações e também as bobagens que saem simplesmente da garganta.
Mas escuta, e cmo já dissemos, usamos a peneira, sempre na vida, para crescermos e sermos pessoas melhores, para assim, ajudarmos quem precisar, quem estiver sufocando no dia seguinte.

Participa sim, e com o tempero ideal.
São os mundos, nossos mundos se juntando e se conhecendo.
É a vida, que está aí, que não espera, que não perdoa.
A mesma vida que te engole, caso você não a viva de forma plena
.
E viva as ondas de idéias, sonhos e emoções.

Anônimo disse...

As palavras se existem ja foram há muito escritas, e ja estão gastas. O que transforma e transcende é o embaralhamento e o empilhamento que faz as palavras como peças de dominó derrubando umas às outras, formando os mais diversos desenhos. O que faz a genialidade com as palavras é derrubar todas as peças do dominó com um peteleco só. Mas para recomeçar o jogo temos que reutilizar as mesmas peças e por fim as mesmas sequências. Sempre gostei de dominó, mas minha irmã preferia o Menudo.

Zé anonimo.

Anônimo disse...

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Nem li tal texto metaforibundo lulístico.

Mario Ferrari disse...

Como dizia o branco poeta galego Francisco Geraldo Órfão de Caeiro, vulgo Adriano:

"joguem-me um poema"

E a poeta Vanessa Borboletra

"Poemas nas garrafas jogadas ao mar"

Poisé! Tá tudo dito pelo mundo!
o seu jeito é só tempero!

Abreijos!!!

De Marchi ॐ disse...

E isso é ótimo em si!

Pepe disse...

Poizintão!