quarta-feira, 26 de março de 2008

• A Dieta das Palavras

Não imagino ninguém mais eficiente na perda de peso do que as palavras. Não tem pra ninguém: dólar, popularidade do Lula, famintos da Somália... nada alcança uma cinturinha tão fina ultimamente.
Palavras, naturalmente lights e dadas à vida de pipa, somem no vento com a mesma facilidade com a qual são sopradas. E olha que não tem dado sequer pra arrancar aquele prazer de empiná-las, de prepará-las com rabiolas dinâmicas e ceróis afiados. Fica até mais fácil pros técnicos em palavrismo exercerem seus ofícios, é inegável. Mas.... puxa! Que saudade! Uma mísera capucheta, um balãozinho-galinha...

Não sei como ninguém pensou em publicar na MarieClaire. Pensando bem, talvez os editores não arrisquem com uma dieta dessas porque assinariam assim o atestado de óbito do segmento. "Dieta definitiva: Aprenda a pesar menos do que dizer Eu Te Amo". "Prepare-se para o verão! Diminua as medidas falando muito de nada". "A nova face do vilão: Confira no infográfico como o 'Confie em mim' colesterage no coração".
É. Seria um sucesso. Conquistaríamos finalmente o sonhado mundo esbelto como um sulfite em branco. A palavrinha, nova pérola da culinária nacional: um belo prato francês de 100 gramas. Bem colorido. Tré-chique. Quem já aderiu não compreende o desespero daqueles que saem desse restaurante e correm pra rotisseria, às escondidas.
Alguns podem dizer que estou a desfilar meu velho pessimismo, o que não deixa de ser verdade. Mas também é verdade, porém, que o andar da carruagem muitas vezes independe de ser aceito ou recusado. Nossos ismos, todos, estão mais light também, com zero de trans.
A ressaca dos tempos de Bilac nos fez cortar a pururuca da vida. Era preciso, de fato, enxugar o colarinho do chopp. O desespero foi tanto que, em nome de uma comunicação tranquila, caçamos até o arroz e o feijão. Nem HDL, nem LDL. Foi-se o gosto também, mas não importa: o que conta é entrar no biquini da nova estação (ainda que ele seja feito para alguém bem menor que você). Tudo bem, diminuir-se faz parte do jogo de desfilar, de inserir nossa desnutrição politicamente correta na Nova Ordem Mundial. Que venha a canja rala com Caldo Maggi; acidulante não tem caloria.

***

O Mercado é um modernista por excelência: sempre acompanha as tendências. Os fabricantes de Amizade, os manufatureiros do Amar, todos correram atrás do prejuízo. Mudaram o rótulo, tiraram o significado, escreveram com minúsculas, diminuíram o peso líquido e pumba: lá estava o verbo revisitado a flutuar nas prateleiras. Agora dá pra falar "te amo" 30 vezes ao dia! Dá até pra usar como vírgula, esbanjar sem medo de somar sustânça. Se antes não dava pra botar o verbo no prato à toa, agora dá pra jogar a sobra fora com a consciência tranquila. Acabou-se o pecado do desperdício, dizem.

Perdoem este obeso-mórbido que vos fala: fui criado com a vó dizendo que é bom ser robusto, que saco vazio não pára em pé. Sou um desses imbecis que passam as madrugadas a assaltar vergonhosamente essa geladeira virtual em busca de uma boquinha. É natural, para um retrógrado como eu, cobiçar a guloseimática (ó lá, tô aprendendo) fartura de palavras como "Amigo", "Sinceridade", "Responsabilidade" e outros quitutes auditivos que enchiam o bucho da minha orelha com sua crocância, seus nutrientes, suas oito vitaminas e ferro. Eu sei, mea culpa, estou chorando de barriga cheia. Mas, sabe... é só inchaço, estufamento. Enfastiam e emplastram minha gastrite esses fubás de palavrório descalço, salpicados com Sazon sabor FHC, com guarnição de Caetano em rodelas.
Um dia eu aprendo a fechar a boca, a apenas sorrir e usufruir de um "juro e prometo" desnatado com soda. Sabor ômega-3.

6 comentários:

thor disse...

Você não pensa mesmo na Rosana Jatobá e meu sofrimento com esse fogo que rola na Toscana! Nem buda, que do alto do cume arde em chamas, mesmo! Bom, Alah qui mi loc se não rolar uma cerveja rápido! bj

thor disse...

Esqueci de perguntar. Vc sabe onde encontro pontas de esguichadeiras-açu gigante... me falaram que se deixar em repouso no solo da região da Toscana, molha e alivia o calor... bjok

Vinícius Castelli disse...

Pois é, hoje diz-se tanto por dizer, diz-se sem pensar.
Os bons tempos se foram ? Não sei. Talvez não, mas que a peneira tem de ser mais 'afiada', disso não tenho mais dúvida alguma.
Eu ao menos não pretendo entrar nessa dieta, e não sairei dizendo por aí palavras mágicas como se fossem apenas mosquinhas que aparecem avisando quando vai chover. Muito menos morrerei calado.

De Marchi ॐ disse...

Dedé, prometo que farei toda uma análise semiótica a respeito da influência da esguichadeira na Toscana!

Vini... eu ia dizer mas tu já sabe. :)

웃 Mony 웃 disse...

Os bons tempos são sempre os de agora... O que passou pode ter sido ótimo, mas agora é só lembrança.
Palavras vão ao vento sim, e somem nele...
A questão é, de quem são as palavras? Pq as palavras que pesam são aquelas das pessoas cujas quais as atitudes foram sólidas. Aquelas de quem viveu conosco uma história...
E mesmo assim, isso não é garantia de nada, pq até os sentimentos mudam.
Prefiro sentir, viver e dizer quando tenho certeza. E se mudar o sentimento, digo que mudou. Nada é permanete nesse mundo, nem a vida. Tudo flui.
Não apóio de maneira alguma a leviandade, muito pelo contrário. A questão é que solidez não é algo que surge do dia para a noite. Há que se ter atençaõ, observar, sentir e não simplesmente fazer uma aposta...
Quem aposta assume o risco de perder. Quem observa tem mais chances de acertar...
Quanto às palavras, elas pesam segundo a importância mais de quem diz do que o que foi dito, pra mim funciona assim...

V.D.S. disse...

Ai, nem fala que eu sou uma eterna gordinha! Em todos os sentidos.